Amores, dissabores, contos e afins...

Um espaço para a exposição de contos neuróticos...

Sunday, September 17, 2006

O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.

Passamos boa parte de nossas vidas querendo ser notados.
E somos assim desde o nosso primeiro suspiro. Ainda amparado por nossa progenitora, já nos causa bastante descontentamento quando somos colocados em nosso enorme berço e lá permanecemos sozinhos por algum tempo. É angustiante estar naquele imenso quarto, aquele ambiente inóspito e nós ali, desamparados. Não podemos pedir compreensão de um bebê. Não se espera que um bebê entenda que a mãe tem que sair de seu lado por alguns minutos. Esses minutos podem ser traumáticos. Freud exemplificou bem isto com a sua teoria sobre o “Fort dá”.
Quando crescemos um pouco mais, a busca por atenção continua. É como se quiséssemos dizer: “Ei, eu estou aqui, sou importante. Faça-me sentir importante. Mostre-me que sou aceito. Diga que eu lhe dou prazer”.
Na mais tenra idade disputamos avidamente a atenção de nossos pais com nossos irmãos. Cada um desenvolve um mecanismo próprio de “aparição”. Ou é o aluno que tira notas altas, ou é o garoto-problema da escola, o adoentado, o frágil etc. Pois afinal o que queremos é ser notados, seja para o mal ou para o bem.
Na adolescência isto fica mais claro e a dispusta mais acirrada. Ou quer ser a garota mais bonita da escola, a mais assediada, ou a CDF. Até o esquisito tem o seu mérito. O pior de tudo é quando você não existe para o mundo. É muito pior do que ser odiado. Sabe aquele seu coleguinha de classe que você nunca mais vai se lembrar?
Não ser notado é a morte para um artista, por exemplo. E em relacionamentos? Tem coisa mais dolorosa do que a indiferença? Quando você ama, você sente algo. Quando você odeia você sente algo. Mas quando você é indiferente... É o vazio. O vácuo. A ausência total de sentimentos.
Passemos para exemplos reais. Sabe aquele seu relacionamento que foi morrendo aos poucos? Foi morrendo e você nem se deu conta, provavelmente porque estava indiferente. Pois bem. Quando de fato há um ponto final – o ser humano é assim – é que se percebe a falta que o outro faz. A esta altura, o outro aprendeu conviver com a sua indiferença, o seu não bem-querer, a sua ausência mesmo estando presente, o seu não-ser.
Você resolve que quer esta pessoa que outrora já lhe pertenceu. Vai lutar por ela e mostrar que não está indiferente. Qual não é a sua surpresa quando você percebe que não é mais você o indiferente.
Percebe-se isto nos pequenos detalhes: Aqueles telefonemas que ele nunca retornou. Aqueles emails que ele nunca respondeu. Mesmo assim você insiste e liga para ele. Resolve contar o seu dia e suas conquistas recentes. Ele, fazendo força para demonstrar interesse, quase sem energia solta lá do outro lado da linha um “legal”. “Legal”? Apenas “legal”? Sim, apenas isso. E teve sorte que ele ainda lhe atendeu.
Sabe quando você percebe que você não fez a mínima diferença na vida de um ser humano? Sabe quando você se dá conta que você poderia estrebuchar no meio fio de uma esquina deserta e ele nem saberia? Sabe quando ele não tem a menor vontade de ter notícias suas e saber se você está bem ou não? Pois é, você acabou de conhecer a tal da indiferença.
Narcisistas como somos, não convivemos bem com isso. No entanto há de se convir que é uma arma poderosa. Bom para usar com aquele cara chato que resolveu pegar no seu pé. Uma coisa é ser o algoz. A outra é ser a vítima de ato tão vil e cruel.
A verdade que é que a indiferença é um dos sentimentos mais humanos. Antigo, profundo e poderoso. Faz com que você veja aquilo que você não quer ver. Faz com que você reaja de uma maneira que talvez jamais agiria. É transformador. Arranca qualquer sujeito da inércia. Clareia a mente e os ideais. Faz com que você reavalie seus valores.
Portanto, chega-se à conclusão que este não-sentimento tem o seu valor. Precisamos estar conscientes disto e aproveitar ao máximo esta vivência, já que fomos confrontados com tais sentimentos.
Encontrei um site que tem um artigo sobre o tema:
http://www.lieven.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=20&Itemid=2

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